terça-feira, julho 18, 2006

o peixe que dorme no bico do pelicano

não existe roda gigante
ou motor central
o mundo é um caqui
casca fina salpicado
com baratas.

noite passada bebi
pra tentar encontrar
o que talvez seja
impossivel
conseguir
sozinho.

o exercício era constante
copo na boca, copo na mesa
me fez lembrar: quem sabe
devesse ficar em casa
meu corpo parece frágil
doente
mas ali eu era o tirano
e continuava trabalhando
na cerveja ou em algo mais quente.

elas olham e às vezes
até sorriem - sinto
uma fina tripa
a membrana,
a bolsa frágil que
protege o feto
do mundo
me envolve, me sufoca
e se rompe com facilidade
só chegar mais perto
e dizer olá.

são elas que regeneram minha película
que a tornam espessa, forte
salvo de quem me despreza
resistente àqueles que me arranham
são elas que me fazem reviver
o que não recordo ter vivido

sapatos
bolsas
unha
carne
pêlos
busco em todas
elas o conforto
o calor e o alimento
do ventre materno.

segunda-feira, julho 17, 2006

depois das onze horas ou da quinta garrafa

o que fazer quando
tudo à nossa volta
emudecer?

sentado ou andando
sinto uma semente
na garganta
pode ter sido excesso de vento
ou ressentimento entalado
e tudo parece implodir

não feri ninguém nem fui injusto
escapamos das farpas
e tudo parece estar bem.

parece

quando a gente sentava e falava
e bebia talvez até demais
não era você
não era eu
no bar
aquele farfalhar de vozes nos atingindo pelo baço
como numa luta
não dói,
leves murros abaixo da
costela e num pensamento fugaz
você está caída. nocaute.

esteja aqui e alí
flutue pois
espero e penso demais
minha moeda é o silêncio e
a esmola generosa.
eu não peço nada em troca

mas, por favor, não repare muito
e nem comente a minha expressão
tenho que franzir a testa e
fechar um pouco os olhos
muita luz e
muito vento
me fazem mal.
experimente:
você ficará cega
e sua garganta
inflamada.

um gole a mais não fará diferença
coçar a barba ou o saco tanto faz
palavra é mato - somos todos boçais.
amanheceu
igual
o sol, impiedoso, não espera
tento fechar mais os olhos
na esperança de enxergar o rosto
e descobrir quem se dobra e
chora por nós.

domingo, julho 02, 2006

uma palavra do mestre...

Não se deve respeitar toda pessoa de cabelos brancos porque até os canalhas envelhecem.