segunda-feira, julho 17, 2006

depois das onze horas ou da quinta garrafa

o que fazer quando
tudo à nossa volta
emudecer?

sentado ou andando
sinto uma semente
na garganta
pode ter sido excesso de vento
ou ressentimento entalado
e tudo parece implodir

não feri ninguém nem fui injusto
escapamos das farpas
e tudo parece estar bem.

parece

quando a gente sentava e falava
e bebia talvez até demais
não era você
não era eu
no bar
aquele farfalhar de vozes nos atingindo pelo baço
como numa luta
não dói,
leves murros abaixo da
costela e num pensamento fugaz
você está caída. nocaute.

esteja aqui e alí
flutue pois
espero e penso demais
minha moeda é o silêncio e
a esmola generosa.
eu não peço nada em troca

mas, por favor, não repare muito
e nem comente a minha expressão
tenho que franzir a testa e
fechar um pouco os olhos
muita luz e
muito vento
me fazem mal.
experimente:
você ficará cega
e sua garganta
inflamada.

um gole a mais não fará diferença
coçar a barba ou o saco tanto faz
palavra é mato - somos todos boçais.
amanheceu
igual
o sol, impiedoso, não espera
tento fechar mais os olhos
na esperança de enxergar o rosto
e descobrir quem se dobra e
chora por nós.