sábado, maio 27, 2006

calmaria

como um rasante de pompa
o tempo me assusta e deixa a dúvida
se realmente coisas nojentas foram
depositadas sobre nossas cabeças
partículas de poluição, pulgas,
excrementos ou pensamentos
-tanto faz-
das pessoas que nos julgam
que nos ferem com olhos sangrentos
ou daquelas que mal levantam o olhar,
que mal percebem o tempo urgir
e não ligam se um rato de asas
voar baixo e borrifar toda a minha piedade
por sobre seus fios de cabelo ensebados

nesta tarde de sábado, meu coração se torna
uma lagoa rodeada de garças tranqüilas
e cheia de peixes gordos que não deixam
mais se levar por qualquer correnteza.
peixes fortes que suportaram a tempestade
e agora dormem o sono eterno mergulhados
nas doces lágrimas que encheram esta
profunda cratera cavada durante milênios
enquanto cozinhávamos um para o outro.