terça-feira, março 21, 2006

homens macacos não sabem calcular

a vida é 30% satisfatória
quando bebo
se torna 50%

a ressaca da manhã seguinte
compensa esses 20% adicionais
que foram gastos na noite anterior
sobrando apenas
dez por cento
de uma vida insatisfeita.

segunda-feira, março 20, 2006

ovos, galinhas e um pinto.

um conto
diz pouco
com muito

um poema
muito com pouco

eu digo quase nada
com muito pouco

talvez o conto
seja a saída.

a última pedra

queria arranjar um trampo sem vergonha
pra ter grana pra beber

se eu fosse rico, já estaria morto
o melhor que os ricos tem a fazer é se matar
fazem um bem pra eles e pra nós
imagina se eu estaria aqui
numa segunda a tarde ensolarada
coçando o rego, o saco...

não quero morrer tão cedo
quero ver o circo se esturricar por completo
mas acho que não acontece
e eu estaria do lado de fora bebendo
um fermentado bem gelado

no fim das contas
serão apenas cabeças a rolar e
o céu não será mais bonito
as pedras vão contunuar ali,
a areia, as árvores
e nós também
tudo igual

de uma maneira ou outra
haverá sempre
gente chata nesse mundo.

sábado, março 11, 2006

purgatório

procurei a salvação
te encontrar envolta
de orquídeas e daquela luz
branca e ofuscante.

você se libertou
e suas correntes despencaram
no centro do meu cucuruto
estou no vale da morte, cego
enquanto suas pernas
desfilam encantando
os deuses, as deusas e todo o resto.

ouvi dizer sobre algumas migalhas
que por sorte caíam nos olhos do
rasputin, dos cães, dos abutres
e todo o resto.

a sobra
- divina e diabólica -
tem muita credibilidade
eu só tenho uma grande barriga
vazia e com a dimensão entre o céu
e o nosso inferno.

rastejando

não ligo mais
pras roupas sujas e limpas espalhadas pelo chão
passo reto pelo lixo pelo cinzeiro
e tudo mais que estiver cheio

eu me acumulo em poças
de chorume e diarréia
até a água secar e tudo virar pântano
até eu me acostumar com o desprezo,
com as risadas, com as cabeças falantes
que aos montes desabitam meu olhar
procuro ignorar

passo horas em frente à tv
talvez mais até no pc
afundando minha bunda flácida
na cadeira ou no sofá
esperando por você

qual o sentido da vida?
não estou interessado
é uma questão vetorial
como cagar ou dar o rabo.

sexta-feira, março 10, 2006

quando a chuva não compensa mais

poderia ter feito carícias
talvez gritado ou ignorado

acontece que
não sou
amargo, nem azedo
e
muito menos adocicado.

essa coisa assim
vagante, ambulante
um zero ao oeste
se você não for desnorteada.

quinta-feira, março 02, 2006

Festa da Carne

Um Carnaval deveras curioso
pra não dizer angustioso
sentei-me na varanda
acendi o meu cigarro
a melancolia me abraçava
enquanto o tempo você já sabe...

Senti saudade e impotência
a punheta não servia mais
melhorei quando encontrei
um cachimbo do meu pai.

O fumo do cachimbo
me causava certa ânsia
de vômito e de pular
do primeiro ou do vigésimo andar.

Mas se até a uva passa
comigo não foi diferente
fiquei bêbado e saí gritando
sem um puto, praguejando

Acredito que pra todos
a ressaca deva ser igual
Fiquemos esperando, pois
pelo próximo carnaval.