segunda-feira, agosto 28, 2006

beijo de morte

eu deveria
mas não fiz
eu poderia
mas não fui.

tentativas
velhas conhecidas
estamos todos
marcados
destino é
crack - tenho a última
pedra
suja, amarela.

e então,
a segunda-feira tem
gosto de quê?

domingo, agosto 20, 2006

Monocromático

A cada passo, a cada caminho, em cada esquina aumenta o peso de uma cruz de aço sobre minha clavícula. O rangido motorizado me acerta no estômago, o duro golpe de um boxeador peso-médio. Forte e ligeiro. São Paulo: a cidade cinza onde a distância do céu ao inferno é orgânica. Luz e trevas se fundem desproporcionalmente, diferentes tons de cinza fotografando corações distintos e solitários. Os caminhões despejam fuligem, as pombas depositam pulgas, as baratas e os ratos na espreita de que nós, humanos, daremos o devido espaço para emergirem sobre o asfalto. Deixo pegadas imperceptíveis nas calçadas sem a noção de um dia a pedra furar, abrindo uma fenda diretamente para o colo do diabo. Se existe inconsciente coletivo, então sou mato ou rocha e mendigo tem cheiro de boceta. Aquilo que desejamos está onde mora o desprezo, o homem obsoleto, o super-homem de barbas cinzas, da cor do acúmulo de cabeças vagantes chocando entre si.
Agora, multiplique tudo isso pela quantidade de dias em que a rotina é igual. Vai-e-vem de olheiras correndo de nenhum lugar para lugar algum. Ninguém disse que seria fácil. Poderia, ao menos, ser um pouco menos barulhento ou, quem sabe, mais entorpecido. Escolhemos caminhar sóbrios, vendo e ouvindo a parte dura da existência crendo que tomamos posse de nossa miserável realidade. A ressaca existe para nos lembrar de tal fato. Pensando que está bom, entupimo-nos de amaciantes sociais. Mas o dia seguinte está para aqueles que têm fígado. Dizem que para o fígado faz bem tomar coisas amargas. Cynar é a resposta para tais males. Aonde queremos chegar?
Eu busco uma praia que caminhe sobre mim como se pisasse em ovos de veludo. Porque aqui, em São Paulo, eles te pisam calçando botas de prego. Quero enxergar até onde o vento faz a curva, ver o fim do mundo, o horizonte que se perde. Sentir a brisa contra o meu rosto, resistindo ao meu olhar, mantendo-me na areia, impedindo que eu me lance ao mar e navegue nu na direção do infinito.

segunda-feira, agosto 07, 2006

pelado rolando montanha abaixo

faltou-me energia
ou vigor. potência
pra reagir na hora
que a ira despertou.

caminhei um bocado
pra dissipar toda sua
alma que cravou-se -
naquele instante - como
prego na areia
em mim.

nem tudo é flor

o álcool me transporta
a um jardim onde a
tristeza, a perda,
o desejo de sobreviver adornam
de forma onírica as cavernas
que minha alma edificou
com lenta e paciente erosão
com aquele soprar do vento que trás a resposta
daquilo que nunca foi necessário perguntar:

morremos?